Cantares da guerra silenciosa: Manuel Scorza ou a literatura como tribunal
Palavras-chave:
direito, obra literária, denúncia, tribunalResumo
O artigo adota como exemplo de literatura da crise, a saga do escritor peruano Manuel Scorza (1928/1983), conhecido como “La balada”, “Los Cantares” ou “La guerra silenciosa”, “Redoble por Rancas” (1970) inicia esta saga, que é seguida por “Historia de Garabombo el invisible” (1972), “El jinete insomne” (1977), “Cantar de Agapito Robles” (1977) e “La tumba del relámpago” (1979). Nele, ele dá conta do levante indígena, nos Andes Centrais do Peru, ocorrido entre 1950 e 1962, sufocado de forma sangrenta pelo governo e do qual Scorza participou como ator e testemunha. Scorza combina de forma sutil e enormemente poética, a crônica histórica, iniciável com realismo mágico, para a qual utiliza elementos da mitologia pré e pós-colombiana, alcançando, em inúmeros momentos dos cinco romances, passagens de um surrealismo denso, belo, como humorístico, em que a análise política, é ao mesmo tempo realista, crítica e “desesperada” à maneira camusiana, ou seja, comprometido com o vizinho próximo, ainda sem esperança certa de vitória. Entrelaçando crônicas, mitos, ideações mágicas e denúncias sociais, carregadas de um humor absurdo que funciona como um trágico repulsivo, a literatura de Scorza trata do passado presente, mostrando, emblematicamente, que é na areia da memória que se travam os debates ideológicos dos futuros esperados. As cinco histórias compõem um crescendo de um gênero que poderíamos chamar, parafraseando o próprio Scorza, a literatura como tribunal, numa espiral que vai da discordância diante dos abusos, à conscientização e rebeldia, exibindo a resposta sempre implacável de um regime cínico.
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